Em artigo publicado na revista Nature em 03 de agosto, a Colaboração ALPHA no CERN (Centro Europeu de Física de Partículas) descreve a primeira medida da constante de estrutura hiperfina do átomo de antihidrogênio. A estrutura hiperfina do átomo de hidrogênio dá a grandeza da interação magnética do núcleo (próton no caso de hidrogênio ou antipróton no caso de antihidrogênio) com o elétron (ou pósitron no caso do anti-átomo). Em hidrogênio, na ausência de campos magnéticos ela é responsável pela abundante radiação de microondas emitida nos meios interstelares em 21 cm, ou 1,4 GHz. Na presença de campo magnético a energia (ou frequência) da transição depende do campo magnético onde o átomo se situa. Com o recente aprisionamento magnético de anti-hidrogênio a Colaboração ALPHA começou um programa de medidas de alta precisão no anti-átomo para testar uma teoria básica da Física que prevê que o anti-átomo deve ser idêntico ao átomo. Embora a armadilha magnética tenha um campo que varia no espaço, uma garrafa magnética, a Colaboração explorou o fato de que há um campo mínimo por onde os átomos podem passar, e assim, há um valor mínimo de frequência onde os átomos começam a interagir com as microondas. Realizando a medida de duas diferentes configurações de spin a colaboração obteve a medida da constante hiperfina do antihidrogênio em 4 partes em 10000, compatível com o valor em hidrogênio. O grupo, de 54 cientistas e que conta com 4 brasileiros sendo 3 professores do Instituto de Física – Profs. Cláudio Lenz Cesar, Rodrigo Lage Sacramento e Daniel de Miranda Silveira – parte agora em 2017 para uma medida do espectro ótico do antihidrogênio na região do ultravioleta, em 243 nm, onde espera obter uma medida da frequência com 12 algarismos significativos. Para realizar essa transição ótica é necessário o aumento da potencia do laser numa cavidade ótica ressonante que foi idealizada e construída pelo grupo brasileiro. Em 12 casas decimais na comparação de antihidrogênio com hidrogênio abre-se a possibilidade de observação de uma possível assimetria entre matéria e antimatéria. Essa jornada busca entender um dos maiores mistérios da Física: por que o Universo não contém antimatéria primordial. Se o antihidrogênio vai nos mostrar medidas iguais à do hidrogênio nos próximos avanços desse grupo, só a natureza pode responder. Para realizar medidas de mais alta precisão o grupo brasileiro desenvolve a técnica necessária para o aprisionamento de hidrogênio na mesma armadilha que o antihidrogênio. Se as medidas derem diferentes, mesmo que somente em 13, 14 ou 15 casas decimais, isso representaria uma revolução na Física. Se as medidas forem compatíveis, continua o mistério: qual o fim da antimatéria primordial e como sobrou tanta matéria!?