O ensino remoto adotado durante a pandemia de Covid-19 é tema do artigo Ensino de Física em Tempos de Pandemia: Instrução Remota e Desempenho Acadêmico, publicado por C. E. Aguiar, M. Moura e M. F. Barroso na Revista Brasileira de Ensino de Física (https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2021-0329).
O trabalho analisa se a aprendizagem de estudantes do IF-UFRJ em um tópico específico, a Termodinâmica, foi alterada pela adoção do ensino remoto emergencial em 2020. O principal instrumento do estudo foi um teste conceitual, relativo à aprendizagem das primeira e segunda leis da Termodinâmica, que vinha sendo aplicado sistematicamente em duas disciplinas do IF antes da pandemia e continuou a ser utilizado nas mesmas disciplinas após a mudança para o modo remoto. Isso permitiu comparar os resultados do teste em turmas similares e investigar se a mudança no regime de ensino afetou o desempenho acadêmico dos estudantes. As disciplinas investigadas foram “Mecânica do Sistema e Física Térmica”, da Licenciatura em Física, e “Termodinâmica”, do Mestrado em Ensino de Física. Os resultados do teste mostraram que, apesar da enorme disrupção imposta pela pandemia, nas duas disciplinas a transição para o ensino remoto não gerou mudanças estatisticamente significativas no rendimento acadêmico dos alunos.
Um aspecto tratado no artigo é a incidência de “cola”, pois é concebível que o compartilhamento de respostas entre os estudantes seja uma prática mais comum em avaliações remotas que em presenciais, invalidando a utilização de um teste como forma de comparação entre os dois modos de instrução. O artigo descreve métodos pelos quais é possível estimar se a incidência de respostas idênticas em um teste de múltipla escolha é maior que a esperada estatisticamente, e mostra que não houve mudança significativa na probabilidade de cola nos grupos avaliados.
Os autores enfatizam que não se deve generalizar os resultados apresentados no artigo, dado que diferentes disciplinas encontraram dificuldades de natureza e intensidade muito diversas durante o processo de adaptação ao regime remoto. Também ressaltam que uma avaliação de aprendizagem não alcança todas as dimensões acadêmicas afetadas pelo ensino remoto. A evasão estudantil, por exemplo, é uma variável extremamente relevante que não pode ser medida por um teste aplicado apenas a alunos que permaneceram no curso. São necessários estudos mais abrangentes para determinar a extensão dos efeitos do ensino remoto e extrair lições que possam ser aplicadas a um planejamento adequado das atividades de ensino no período pós-pandemia.
Texto de Carlos Eduardo Aguiar, Marcos Moura, Marta F. Barroso.