O anti-átomo de hidrogênio é neutro

A ausência de antimatéria primordial no Universo é um dos grandes mistérios da Física, pois deveria ter sido criada em quantidade praticamente igual à matéria. As propriedades da antimatéria devem ser idênticas às da matéria, com exceção da carga elétrica que é trocada. O estudo com precisão de átomos de antihidrogênio – formado por um antipróton ligado a um pósitron (anti-elétron) – pode fornecer surpresas sobre as previsões da teoria e assim elucidar esse mistério. Sendo um sistema novo a disposição dos físicos, esse átomo neutro – a princípio – deve ser testado em todas as suas possibilidades. Assim, é importante medir experimentalmente se seus níveis quânticos de energia são exatamente idênticos ao do átomo de hidrogênio; se sua massa inercial é a mesma; se a interação gravitacional entre antimatéria com matéria é idêntica a da matéria com matéria. Todos essas medidas acima são objetivos principais de experimentos que ocorrem no CERN. O grupo ALPHA, o primeiro a conseguir aprisionar o antihidrogênio, está se preparando para realizar uma medida de alta precisão nos níveis quânticos do anti-átomo e agora acaba de publicar a medida mais precisa da nulidade da carga do antihidrogênio. Essa medida, que limita a carga do anti-átomo a 0.7 ppb (partes por bilhão) da carga elementar eletrônica representa o percurso para as próximas medidas de espectroscopia a laser dos níveis quânticos do anti-átomo onde se pretende chegar a partes em 1015 e adiante. A janela que se abre na natureza quando se tem um novo objeto de estudo é uma oportunidade única e que pode demonstrar uma falha na teoria atual podendo fornecer novas pistas para a explicação de vários mistérios atuais como: a assimetria matéria-antimatéria e massa e matéria escura. Por sinal, o grupo brasileiro busca bons estudantes para os próximos passos desse experimento, a saber: a espectroscopia a laser do antihidrogênio e hidrogênio, e uma medida do efeito gravitacional sobre o anti-átomo.

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Artigo: http://www.nature.com/nature/journal/v529/n7586/full/nature16491.html

Texto na Ciência Hoje: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/comprovacao-cada-vez-mais-proxima